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quarta-feira, março 31, 2010

Control ? 

Jim Jarmusch resolveu manueloliveirar.

O mau:
- a história, propositada e desnecessariamente mantida apenas com uma lasca de senso;
- as falas, impossíveis, e os longos silêncios, posando por profundidade;
- as referências a filmes, autofágicas;
- a nudez, descabida e estupidificante;
- os pormenores urbanos em que se fixam, irritantes na presunção de terem encontrado "a alma das cidades";
- os detalhes, pretensos de carácter, bizarrias sem sentido (dois expressos, chávenas separadas);
- as imagens de vigília, da dança da reza, ou do helicóptero, repetições sem interesse;
- o facto de ser chato, muito, muito chato.

O que sobra:
- a arte, antecedendo, ou acompanhando, a vida; as coordenadas codificadas, aparentemente relacionadas com as salas do museu; as imagens dos quadros, reproduzidas nas cenas do filme;
- os seios, desalinhados;
- a lição; filmes em que se vê uma pessoa a andar são maus; filmes em que se vêem pessoas paradas também são maus; filmes com ambos os anteriores...

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terça-feira, março 30, 2010

Barcelona power 

O avião traz-nos paralelos à costa; do alto, vê-se uma central de energia, três volumes encimados por chaminés, tubos de betão lançados mar adentro; um estilo algures entre os anos 30 e a ficção científica, verdadeiro futurismo; traços sem reentrâncias, ovalados, lisos, perfeitos como se tirados de um desenho; na névoa amarelada, parece irreal, uma imagem de filme, imposta à paisagem.

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Tá bem 

"The best things in life are not things".

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segunda-feira, março 29, 2010

Suomi, 90s 

Há quase 20 anos atrás, passei uns dias na pousada de juventude de Helsínquia.

Encontrei um moço holandês que se preparava para ser escritor e que me mostrou um pequeno conto suportado por diálogos - uma descrição das dificuldades de comunicação entre um casal - que me pareceu óptimo, excepção feita ao último parágrafo que, condescendentemente, explicava ao leitor o que se tinha passado e o que devia sentir.

E conheci também um homem já de uma idade respeitável, acima do maduro, que se prostrava para Meca. Era suíço e disse-me que passava os dias a viajar pelo mundo, visitando os países cujas línguas falava fluentemente. Um feito particularmente impressionante porque parecia ter estado já em todo o lado.
Falámos das nuances do árabe, dos Sete Pilares da Sabedoria e de tempos idos em que os mais sábios tomavam aprendizes a seu cuidado, para contribuir para a sua educação. Nesta correnteza, deu-me o seu contacto, que mantenho religiosamente desde então, salvaguardando uma oportunidade única.

Claro que nunca escrevi de volta. A porta era demasiado importante, não a sabia, não a podia, abrir.

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Everyday(s), no Casino 

- Adolescentes chineses que se passeiam vestidos como personagens de manga e que dessa forma regressam a casas onde não conseguem comunicar;

- uma piscina que se enche, recobrindo um homem apanhado pela idade e pela doença;

- um artista que, a cada vez que vende um quadro, o copia, acrescentando o nome do cliente, e recoloca à venda (criando uma comunidade de clientes e vendendo a mesma coisa várias vezes);

- um espelho que nos devolve uma imagem digital distorcida, sob o nome de cyber portrait de Dorian Gray;

- um impressionante vídeo que foca um casal de idosos que parece viver horas confinado ao espaço físico de uma cama; quando a câmara se afasta, percebe-se que estamos num ginásio cheio de refugiados.

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domingo, março 28, 2010

Revolutionary road 

As cenas das zangas, com as suas enormes incomunicação, tristeza e violência, tocam demasiado perto do osso para poderem ser comentadas.

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sábado, março 20, 2010

There, three 

Chapter 10

"The realisation that, instead of giving in to our wishes, we can break free from them [...]
The Buddha called it the 'middle way', because it lay between useless self-torment and thoughtless pleasure-seeking".

Chapter 30

"This magic was arithmetic [...]
How a clock with a pendulum 981 millimeters long needs exactly one second per swing, and why this is so".

Chapter 36

"A worker who did nothing but pull a lever on a machine two thousand times a day hardly needed to know what the machine produced [...]
Which meant, in fact, said Marx, that there were no longer real occupations".

E.H. Gombrich in A little history of the world

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Strange days 

Há já algum tempo.

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segunda-feira, março 08, 2010

Morfes 

Dantes, jantava em casa à semana e fora ao fim-de-semana;

agora, é mais ao contrário;

por más razões à semana, por boas ao seu fim.

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Wonderful 

- this 3D thing is amazing; 20 years later, the goggles came back and left an impression, at least on me (also a headache, btw)

- nevertheless, I am divided between thinking that this is just a gimmick, an easy way to trick the audience into paying attention (all about form and not about content), or the beginning of a new era (that is starting with the expectable experimenting with the possibilities of the technology, things that may look basic, blunt or unsophisticated in the future); I wonder if this discussion also took place when we went from silent to sound movies, and from black and white to colour

- the directing is professional in conveying movement and impressive in treating the scenario and wardrobe; I think that here the 3D actually rends a bad service to the movie, because it puts to the foreground the wonderful choices of set, camera angle, colour scheme, etc.

- the plot starts from a very interesting and promising premise, i.e., Alice going back to Wonderland; but the actual storyline is, I find, a bit plain, and is played like something between the Lord of the Rings and Jeanne d'Arc

- having said this, a Wonderful movie

http://en.wikipedia.org/wiki/Living_Next_Door_to_Alice
http://en.wikipedia.org/wiki/Alice_in_Wonderland_(2010_film)

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Liberdade 

"No discipline means no freedom".

Jeanette Winterson

Ora aqui está uma ideia adulta.

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The past is grotesque animal 

http://www.youtube.com/watch?v=G2p9fDJsHNo

Isto é sublime.

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sábado, março 06, 2010

Trial 

Há coisas para além daquilo.

Há partilhas e jantares e conversas e filmes e projectos.

Há dualidade, valha-nos a completa ausência de surpresa.

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Mores 

Se não o posso pôr para trás, imagino que vá ser o tempo a fazê-lo, à força, arrastando-me com os dias.

Mas erodindo com ele - se não com a mesma lentidão, com a mesma inexorabilidade - o que se tiver construído sobre os pés e restante barro da ruína.

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quinta-feira, março 04, 2010

A outra margem 

Um pouco para minha surpresa - confesso o preconceito - gostei imenso do filme, exceptuando apenas duas ou três cenas (os longos grandes planos iniciais do travesti a cantar, que achei esteticamente menos elegantes, a segunda passagem da câmara sobre o volkswagen, criando a ilusão que o tio e o sobrinho estavam "juntos", o momento final de volta ao cabaret, que me pareceu expectavelmente meloso) e dois ou três pedaços de diálogo (o excelente trabalho dos actores conseguiu salvar várias falas improváveis mas mesmo assim sobrou algum irrealismo; o registo oral entre adultos nunca é assim tão ponderado, claro e articulado, as pessoas simplesmente não falam assim...).

Gostei do retrato de Amarante, dos encontros do avó e do neto, da tristeza contida da mãe, que tece numa sala vazia de ornamentos, da explosão de emoção quando liberta o filho para ir para Lisboa (magnífica e verdadeira mesmo carregando às costas um texto improvável), das histórias que não se fecham, ou não se fecham necessariamente bem, porque não há pontes entre essas margens, como a da relação com o pai e com a ex-namorada; gostei, como sublinhou o realizador, do descritivo da solidão, da terrível solidão humana, na diferença mas também fora dela, na vida normal, de todos os dias; gostei da realização, clara, útil, centrada nos actores, todos eles óptimos.

A outra margem, de Luís Filipe Rocha

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