The Antoninos

Aqui vai uma história importante, em dois tomos.

A primeira parte sou eu, no ciclo preparatório, nos primeiros dias do 1º ano.

Sentado no recreio, ouço um míudo mais velho, que me explica o significado morfológico das principais asneiras da língua portuguesa. Eu provavelmente agradeço, antes e depois da surpresa, porque não sabia nada daquilo.

Na parte 2, estou eu na mesma escola, no máximo um ano, vá lá, um ano e meio, depois.

Pasmo, incredulidade e solidão: numa volta acidental na conversa, fala-se das presidenciais, a propósito de autocolantes de campanha, talvez; o meu melhor amigo, acho que se chamava Rui, sei que morava na Conde Almoster, diz-me que apoia o candidato comunista e o bloco de Leste, claro está.

Como? Os ditadores soviéticos? Os tanques do Pacto de Varsóvia? Eles têm de construir muros para evitar que os seus fujam!

Que não, que não, é para manter os criminosos fora, são as democracias verdadeiras, o futuro da humanidade.

E eu, que tinha aprendido há pouco a ferramenta, utilizo-a apropriadamente: vaipócara***! (Esta frase é apócrifa).

Ocorre-me que há vários níveis de ingenuidade nestes meus eus próximos dos 10 anos, e também no do meu amigo; alguma estende-se até ao meu eu de hoje, que continua a ter dificuldade em compreender tantas das escolhas do mundo.

Na volta do correio, envio-me uma nota de certo orgulho pela pureza do sentimento. Havia e há propaganda de ambos os lados, informação incompleta, sabotagem, e o sonho comunista de a cada um o que precisa, de cada um o que pode, não é um mau ensejo; mas, porra, no meio das nuances todas, até o meu eu de 10 anos conseguia ver:

na dúvida, liberdade.