segunda-feira, setembro 22, 2025
Para quem?
Há que reconhecer e aceitar o facto de não se ser mais e melhor e de não se alcançar mais longe e mais alto.
Mas se esse é realmente o caso, então para quem está reservado o prémio? Para o brutamontes, claro. Mas, para além desse, que sempre o consegue, para quem?
Para quem, se não para o altamente educado,
internacionalmente realizado, moderadamente atraente, familiarmente competente,
socialmente agradável, politicamente moderado, moralmente ambicioso,
diplomaticamente resoluto, argumentativamente consensual, laconicamente eloquente,
perspicazmente surpreso, decididamente dubitativo, candidamente maduro, sensatamente
jovem, criativamente seguro… se não para ele, para quem os louros do Destino?
Jejum
Se pedirmos a alguém para não fazer o que quer que seja durante um dia – um dia, apenas um dia, nada mais – parece-nos um pedido pequeno, uma dádiva simples, um sacrifício mínimo, um obrigado rápido. Um dia! Parece tão pouco a pedir à força de vontade, ao corpo, à vida. Negá-lo seria uma indulgência decadente, um capricho destemperado, um exagero de egoísmo, uma impertinência face ao universo.
Há excepções, mas são as que tem efeitos incontrolados, imediatos na sobrevivência: não respirar. Mas, o resto? Quase qualquer actividade humana pode ser adiada com esforço apenas moderado. Há quem passe um ano sem beber, um mês sem chegar atrasado, uma semana sem perder a calma. Parar por um dia? Um dia? Um dia não é nada. Certo?
E, no entanto…
Não comer. Durante umas míseras 24 horas. Não é a mesma coisa mas parece ser
desprocionadamente difícil. Mesmo quando temos reservas mais do que
suficientes. É de ser aquele o nosso primeiro e mais arreigado hábito, embuído daquela
uma montanha de rituais, obrigações e prazeres sociais. Temos que voltar ao
jejum, somos ricos o suficiente.