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quinta-feira, julho 07, 2005

Hóspedes da máquina 

Ao leme

- Avança o barco, mesmo sem almirante.
- Há que procurar porto; em boa hora se mexe.
- Dói-me mais a cabeça; sinto a máquina, dentro de mim.
- Hoje sente-se a máquina por todo o lado - murmurando.
- É o murmúrio do mais poderoso: por baixo, ao lado, por cima - por dentro.
- Nós, ao leme, podemos mais que a máquina.
- A máquina está ao leme. A máquina é o leme. Nós, o leme, a máquina, não há diferença.
- Eu não sou máquina nenhuma.
- Só a sentes fora de ti porque hoje estamos fora de tom. Noutros dias, andas, e a máquina anda contigo, em ti.
- Sou eu quem se mexe.
- Pode ser ela quem te mexe; ou muda o que está à volta enquanto ficas quieto.
- Quando me mexo, mexo-me eu.
- Entras no avião, fecha-se a porta, sentas-te. O tempo passa, abre-se a porta, o cenário mudou. Quem se mexeu? Tu ou o cenário?
- Não dá no mesmo? O cenário mexeu-se por mim, por minha vontade. Mexi-me eu.
- Se não notas... não sabes.
- Hoje noto. Notamos.
- Falta almirante, erra o diapasão...
- As minhas decisões não são falhas de afinação.
- Não é mau ser a máquina. Ser ferro. Ser fluxo de electrões. Ser forte; ser rápido. Ser disparo eléctrico de tubo de vácuo. Ser metal. Ser ferro. Pertencer à máquina, existir. Ser ferro, ser parte da parte da máquina; ser ferro, ser a máquina; ser a máquina, ser carvão.
- Este bicho anda a diesel, bem sabes.
- Este bicho anda a homens, como todos.

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