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sexta-feira, julho 22, 2005

Parto mastigado, roubado ao Marco Pio 

Carta que J não enviou a D, que não conheceu
[diz ela, e é verdade; ou não diz, mas diria, se o dissesse]

Não me falaste.
A mim, habituada a cativar conversas e prender olhares.
Terei perdido o meu dom?
Que tipo de atenção atraio ainda? Será dos trinta? (goza a rima mas treme por dentro)

Não me falaste e não me sosseguei.
Não soube que houve o teu amor grande. Grande como um sol que explode em supernova. Que espalha flores e demais coisas amorosas.
Não me falaste e não recebi essas flores. De sóis. Explodidos em supernova, como amores grandes.
Não dar flores, não se faz.
Não falaste. Deixa; desleixado.

Não me falaste e não soube que o grande amor passou de grande a pequeno e, rápido, desbotou, gastando-se sem seguimento.
Não me falaste e não soube lidar com a decepção que não aconteceu; com não ter corpo para onde derramar mágoa.
Ela permanece, cobre-me mas mal a sinto, moinho de vento contra o qual não se investe.
Será este manto de ausência fiado com aqueles vazios que dizemos carregar sem explicação? Cheios do que não é dito e do que não é feito?
Custa-me essa entropia, esse desperdício. Custa-me, cansa-me.

Não me falaste e continuo sem saber que existes e que não enviaste nota de ti.
Continuo a passear-me como se nada fosse, como se nada tivesse acontecido, verdadeiramente como se nada fosse, nada tivesse acontecido.

Atravesso a rua, vou ao cinema, folheio um livro; se calhar, telefono ao meu namorado; quem sabe, não terei já o miúdo no colégio?

Não me chamaste e, sem chamamento, o meu nome perdeu-se.
Logo o teu se esqueceu também, de igualmente inútil.

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