domingo, novembro 26, 2006
Nederlands Dans Theater
Silent screens
Da mesma forma que a comida nos preenche: com mais ou menos precisão, com maior ou menor prazer, combate-se o vazio. Combate-se a precisão.
O mundo lá fora, fora do casal que dança, está na projecção dos écrans; e, como na vida, o que está fora afecta o que está dentro e há portas e caminhos entre os espaços.
Mostram-nos uma janela, projectada no écran, e a luz que por ela entra é por sua vez projectada, percorre o contorno definindo sombras; um jogo duplo de janelas e sombras.
Os bailarinos vestem cores fortes e simples: preto, branco, um vermelho. Alguns treinam andares estranhos, esgares, bocas abertas. Outros dois equilibram-se de forma impossível, sem abraço, uma sobre o peito do outro. Equilibram-se. De forma impossível.
Dois seres entram no palco, vindos do corredor central da plateia; os corpos esguios, os cabelos colados à cabeça, o ângulo torcido e, sobretudo, o contraste do seu recorte negro com a poça de luz fazem parecer, do balcão onde estava, que eram sombras de Roswell a puxar-se para a cena.
O 'truque' dos écrans desaparece depois do início da peça, e ainda bem, porque liberta o espaço, literal e metaforicamente; reaparece no final, para terminar o desenho de um círculo, para nos indicar um fecho.
Grande parte da música foi Philip Glass, mais surpreendente pelo efeito de tristeza que me gerou.
Toss of dice
O título era mais prometedor, ligava-se ao poema 'One Toss of the Dice Never Will Abolish Chance - Un Coup de Dés Jamais n 'Abolira le Hazard) -, de Mallarmé; mesmo se não consegui prestar atenção a mais do que o primeiro verso...
A música era tão minimalista que, a dada altura, me lembrou tortura chinesa: ping-pausa-ping-pausa-ping.
Fiquei com mais tempo para, como sempre, tentar imaginar uma história por detrás dos movimentos. Ao ver os bailarinos alinharem-se em rigorosa distância entre si, pensei se seria uma chamada de atenção para a formatação social.
E, um segundo depois, pensei na dificuldade que é pensar e fazer pensar (qual o mais difícil), para além dos clichés...
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Da mesma forma que a comida nos preenche: com mais ou menos precisão, com maior ou menor prazer, combate-se o vazio. Combate-se a precisão.
O mundo lá fora, fora do casal que dança, está na projecção dos écrans; e, como na vida, o que está fora afecta o que está dentro e há portas e caminhos entre os espaços.
Mostram-nos uma janela, projectada no écran, e a luz que por ela entra é por sua vez projectada, percorre o contorno definindo sombras; um jogo duplo de janelas e sombras.
Os bailarinos vestem cores fortes e simples: preto, branco, um vermelho. Alguns treinam andares estranhos, esgares, bocas abertas. Outros dois equilibram-se de forma impossível, sem abraço, uma sobre o peito do outro. Equilibram-se. De forma impossível.
Dois seres entram no palco, vindos do corredor central da plateia; os corpos esguios, os cabelos colados à cabeça, o ângulo torcido e, sobretudo, o contraste do seu recorte negro com a poça de luz fazem parecer, do balcão onde estava, que eram sombras de Roswell a puxar-se para a cena.
O 'truque' dos écrans desaparece depois do início da peça, e ainda bem, porque liberta o espaço, literal e metaforicamente; reaparece no final, para terminar o desenho de um círculo, para nos indicar um fecho.
Grande parte da música foi Philip Glass, mais surpreendente pelo efeito de tristeza que me gerou.
Toss of dice
O título era mais prometedor, ligava-se ao poema 'One Toss of the Dice Never Will Abolish Chance - Un Coup de Dés Jamais n 'Abolira le Hazard) -, de Mallarmé; mesmo se não consegui prestar atenção a mais do que o primeiro verso...
A música era tão minimalista que, a dada altura, me lembrou tortura chinesa: ping-pausa-ping-pausa-ping.
Fiquei com mais tempo para, como sempre, tentar imaginar uma história por detrás dos movimentos. Ao ver os bailarinos alinharem-se em rigorosa distância entre si, pensei se seria uma chamada de atenção para a formatação social.
E, um segundo depois, pensei na dificuldade que é pensar e fazer pensar (qual o mais difícil), para além dos clichés...