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segunda-feira, maio 07, 2007

Knock on wood 

Os cidadãos da Madeira têm escolhido, livre e consistentemente, Alberto João Jardim como seu governante.

Para quem percorreu a Madeira ou mesmo apenas visitou o Funchal, acaba por ser evidente que há obra feita, que há acessos, viadutos e pontes e que, em geral, o território tem sido infraestruturado e cuidado com um primor que envergonha muitos outros lugares.

As redes de saúde e educação fazem inveja ao continente, as ilhas são destinos turísticos reconhecidos - garante de emprego -, a região enriqueceu nas últimas décadas a ponto de, vítima do sucesso, deixar de ser elegível para financiamento comunitário.

Este registo de sucesso material da governação criou as condições para o prémio eleitoral repetido. E terá também tecido uma rede intricada de interesses e sido o reflexo simples de que, para o eleitor, os fins justificam os meios.

Na Madeira, ao longo do tempo, as actividades do turismo, construção e função pública, acabaram por crescer hegemonicamente e por se interligar fortemente.
Num meio pequeno, em que quase todos se conhecem, isso significa, para a escassa elite, crescente sobreposição de interesses políticos e económicos; para a população em geral, associação natural entre emprego, bem-estar e manutenção do status quo.
Mudar será ali mexer com interesses estabelecidos ainda mais do que noutros lugares (que contarão com mais alternativas e menor pessoalidade nas ligações). O sucesso material da governação poderá assim ter (nascido de) gerado e reforçado uma dependência circular de interesses.

Os madeirenses não concordarão seguramente com todas as diatribes e menores ou maiores excessos do líder. Mas têm aceitado alegremente pagar o pequeno preço que é o desprezo intelectual (até agora largamente inconsequente) de Lisboa.
Num mundo ideal, escolheriam talvez outro líder que lhes aportasse o mesmo crescimento sem a correspondente boçalidade.
Mas enquanto o mundo ideal não chega, aturam-lhe o feitio, sorriem ou engolem em seco, e gozam os resultados.
O sucesso material da governação poderá ter assim levado a que se aceitasse um compromisso quanto a um eventual desejo de representação mais convencional ou digna - os fins justificando os meios.

Um último ponto. O problema não é Lisboa pagar o desenvolvimento da Madeira: se não for Lisboa, isto é, a região mais rica e desenvolvida, quem há-de ser?
A questão será antes garantir uma redistribuição equilibrada e justa, em que as regiões recebam, proporcionalmente, em acordo com o que necessitam (e com o que se pode repartir). E não consoante quem mais berra.
Mas isso seria, talvez, também num mundo ideal.

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