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quinta-feira, março 04, 2010

A outra margem 

Um pouco para minha surpresa - confesso o preconceito - gostei imenso do filme, exceptuando apenas duas ou três cenas (os longos grandes planos iniciais do travesti a cantar, que achei esteticamente menos elegantes, a segunda passagem da câmara sobre o volkswagen, criando a ilusão que o tio e o sobrinho estavam "juntos", o momento final de volta ao cabaret, que me pareceu expectavelmente meloso) e dois ou três pedaços de diálogo (o excelente trabalho dos actores conseguiu salvar várias falas improváveis mas mesmo assim sobrou algum irrealismo; o registo oral entre adultos nunca é assim tão ponderado, claro e articulado, as pessoas simplesmente não falam assim...).

Gostei do retrato de Amarante, dos encontros do avó e do neto, da tristeza contida da mãe, que tece numa sala vazia de ornamentos, da explosão de emoção quando liberta o filho para ir para Lisboa (magnífica e verdadeira mesmo carregando às costas um texto improvável), das histórias que não se fecham, ou não se fecham necessariamente bem, porque não há pontes entre essas margens, como a da relação com o pai e com a ex-namorada; gostei, como sublinhou o realizador, do descritivo da solidão, da terrível solidão humana, na diferença mas também fora dela, na vida normal, de todos os dias; gostei da realização, clara, útil, centrada nos actores, todos eles óptimos.

A outra margem, de Luís Filipe Rocha

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