<$BlogRSDUrl$>

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Alguém com quem se pode falar 

"A Igreja lutou contra a modernidade, embora, por outro lado, os grandes valores da modernidade venham, fundamentalmente, da Bíblia [...]
H[ouve] um Papa que proibiu a leitura da Bíblia, outro refere-se à detestável doutrina dos direitos humanos [...]

É uma vergonha que 20% da humanidade controle 80% da riqueza [...]
Mas, se não formos solidários por uma questão ética, de humanidade, então sejamo-lo ao menos por egoísmo esclarecido. Porque vamos entrar numa conflitualidade sem limites: quem julga que nunca mais haverá revoluções anda enganado [...]

Deus mesmo, em Jesus Cristo, assumiu a corporeidade humana na sua fragilidade [...] Como é que uma religião do corpo se dá depois tão mal com o corpo, historicamente? [...]
Bernard Häring disse-me uma vez: 'A Igreja Católica também tem culpa disso. Fez tabu de tudo e as pessoas quiseram depois libertar-se, mas libertaram-se mal' [...]

Quase sou levado a dizer que, desgraçadamente, a Igreja pode ser acusada por alguns de ter recuperado grande parte das causas que levaram Jesus à morte [...] a religião dos sacrifícios, que explorava o povo [...] 'Eu não quero sacrifícios, quero misericórdia'. Jesus veio anunciar um Deus de amor, não precisa de sacrifícios [...]

Ora, o que a Igreja pregou muitas vezes, ao longo dos tempos, foi uma má notícia, o 'disangelho', no dizer de Nietzsche [...]
Admiro os ateus que, quando ainda não havia liberdade religiosa e ser ateu significava o fogo da Inquisição e implicava, no quadro doutrinal da época, ir para o Inferno, ousaram, em nome da liberdade crítica, da razão e da própria dignidade de Deus e do homem, pôr a questão de Deus e ser ateus. Esses são santos da humanidade [...]

a religião não desapareceria, porque há sempre o problema do sentido final, da morte, do tédio, como dizia Ernst Bloch [...]

até à nidação, uma vez que ainda pode haver gémeos monozigóticos, não temos propriamente um indivíduo, de tal modo que a interrupção do processo não se pode chamar homicídio [...]
meios anticoncepcionais naturais, pergunto: o que são métodos naturais, se foi o homem que os descobriu? A Igreja torna o seu discurso não crível, porque, por vezes, a argumentação é frágil [...]
Se Deus deu a vida humana, deu-a mesmo [...] é um dom e não é um fardo..."

Padre Anselmo Borges in Pública, 6/2/2011

0 comments

Post a Comment

This page is powered by Blogger. Isn't yours?