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domingo, janeiro 13, 2019

A casa da minha Avó 

A casa da minha Avó já não existe.
O prédio está lá, o apartamento também, as paredes, presumo, mantêm-se. O sítio da casa da minha Avó existe mas a casa da minha Avó desapareceu.
Não foi com a sua morte, foi um pouco depois, com a morte da Rosa, mas, lá está, desapareceu. Ainda se pensou em mantê-la na família, o que a teria preservado, mesmo numa evolução que certamente a modificaria na forma. Mas a substância teria ficado, e as memórias, e o nomes. Assim, desapareceu mesmo.
Se fosse hoje bater à porta, explicar que queria visitar o lugar onde viveu a minha Avó durante perto de 50 anos, que precisava de uns minutos para olhar para os espaços onde comi, dormi, chorei, brinquei, para ver como estão as paredes e janelas que foram o reino da minha infância, se os corações entendessem e aceitassem o meu convite, seria uma passagem por uma paisagem inteiramente nova, seguramente cheia de gosto e Ikea, impossível de reconhecer. Pior, seria uma demolição real da memória.
Nada disto é novo, nada disto acontece pela primeira vez a casas e pessoas. É apenas novo para mim, a minha Avó só morreu há 10 anos, a Rosa há 8 (será que acerto?), a casa foi vendida logo depois.
O único sítio onde a casa da minha Avó existe é na cabeça dos que por lá passaram e a sua memória é a geografia da saudade.

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