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quinta-feira, janeiro 10, 2019

A casa de banho 

A casa de banho era comprida: banheira, lavatório, bidé e sanita em sequência, todos à direita, terminando numa pequena janela alta que dava para os quintais.
Mesmo em frente à banheira, havia um móvel tosco de madeira, baixo, em forma de tijolo, sem ornamentos, e pintado com tinta bege, que a alturas tinha secado em grandes pingos.
Numa das gavetas de cima estavam as minhas colecções: calendários, autocolantes, borrachas, e coisas que tais. A outra guardava os meus Tios Patinhas.
A minha colecção de banda desenhada incluía o nº 2 do Pato Donald em Portugal e uma pequena montanha de Disney Especial, os únicos que demoravam algum tempo a ler, que a minha Avó me comprava resignada na papelaria da Dona Lisete . Muito mais tarde, consegui alargar o meu espólio com a Biblioteca do Escuteiro-Mirim. Para o meu eu de então, tinha a aura de uma verdadeira enciclopédia, completa no âmbito, prática na abordagem, e também mítica, porque referenciada e citada em livros de quadradinhos mas nunca realmente vista até então.
Do trono onde lia e relia toda essa literatura podia ver-se um pouco do quintal e dos prédios em volta. Um pequeno banco de madeira, da mesma família pobre do móvel da BD, era a minha mesa de apoio para os livros ou para os carrinhos ou bonecos.
Uma vez parti lá um frasquinho de vidro que fechava com uma pipeta conta-gotas. Estava a deitar gotinhas de água no tampo do banco, ou a fingir que a pipeta era um foguetão, ou coisa que o valha, e escapou-me da mão. Meia-hora antes o meu tio tinha-me dito: "Podes levar mas tem cuidado para não o partires porque preciso disso".

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