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sábado, janeiro 12, 2019

A entrada 

A porta de entrada do prédio da minha Avó era dupla, com cada lado dividido em partes desiguais: em cima vidro, até lá muito acima, e em baixo, junto ao chão, metal pintado de verde escuro. Dois tubos verticais dourados e ocos, do tamanho de uma perna, serviam para a puxar e empurrar. O da esquerda tinha mossas e furos no topo. A fechadura ficava absurdamente baixa, obrigando a que se dobrasse as costas para enfiar a chave que invariavelmente era difícil de fazer rodar.
Entrados, e apesar dos enormes vidros, era bom ligar a luz eléctrica, que a natural escapava-se ao fim do primeiro lanço de escadas (o interruptor era antigo, uma semi-esfera achatada, com mola, no meio de um disco de plástico).
Pré-iluminados, subia-se uns dez degraus para chegar ao primeiro patamar. Aí, era possível ver à esquerda a casa da Dona X, andar dois passos para a direita para a casa do Senhor Ernesto, subir para o primeiro andar ou, estranhamente, ir em frente e começar a descer, até à casa da Dona Z, que não tinha janelas para a frente e dava para o quintal mais baixo. O Senhor Ernesto trabalhava na Carris, acho que conduzia autocarros, e era óptimo a assar sardinhas, que oferecia sempre à minha Avó, para minha alegria.
No segundo degrau do segundo lanço de escadas, o mármore tinha uma mancha avermelhada, que era realçada pelo pequeno quadrado de luz que descia da clarabóia. A partir daí, apoiava-me no grosso corrimão, de madeira sólida e trabalhada, puxando-me a força de braços para manter velocidade na subida enquanto a minha Avó ia ficando para trás. Mais uma curva em cotovelo, a parede cinzenta com três pequenas tampas de acesso aos canos encrustadas, olhava-se para cima, estava-se quase em casa.


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